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O advento da e-saúde

25.06.2024
O advento da e-saúde
As ondas de choques que afetaram todos os países após a pandemia da covid-19 continuam a condicionar o desenvolvimento económico. Apesar dos contínuos sinais de melhoria, é ainda provável que as condições voláteis persistam durante mais algum tempo, tendo em consideração os conflitos armados na Ucrânia e no Médio Oriente. Esta instabilidade macroeconómica tem tido um impacto muito significativo no aumento geral dos preços dos bens e serviços (inflação geral) que influenciaram de forma mais acentuada os custos com os serviços médicos privados (inflação médica).  

Em Portugal, além do impacto da inflação nos serviços médicos, verificou-se, em paralelo, um aumento significativo de utilização (frequência) e gravidade das patologias (severidade) no acesso aos serviços clínicos privados, que resultaram num considerável aumento dos custos (preços) com os seguros de saúde, tanto para clientes particulares, como para clientes empresariais. Estima-se que, em 2023, a inflação médica tenha rondado os 7% e a projeção para 2024 aponta para um valor na ordem dos 10%, ou seja, 7 p.p. acima da inflação geral.  

É deste contexto pós-pandémico que reflete, simultaneamente, um aumento exponencial da procura de serviços clínicos privados e dos custos médicos (inflação médica), que surge o reforço da oferta dos serviços em formato e-saúde, que os diversos operadores de mercado, sejam prestadores ou seguradores, têm vindo a dinamizar. Pode-se destacar, a título de exemplo, os seguintes: 

  1. Consultas de telemedicina, com acesso a consultas de diversas especialidades clínicas;  
  2. organização e disponibilização do historial clínico de cada paciente, incluindo relatórios de exames de diagnóstico, através da área reservada de cliente (prestadores privados); 
  3. prescrições eletrónicas de medicamentos; 
  4. gestão de doenças crónicas, sejam consultas ou rotinas de medicação diária/controlos.  

A Organização Mundial de Saúde define e-saúde "… como a utilização segura e rentável das tecnologias da informação e das comunicações para apoiar a saúde e os domínios relacionados com a saúde, incluindo os serviços de cuidados de saúde, a vigilância da saúde, a literatura sobre a saúde e a educação, o conhecimento e a investigação no domínio da saúde.” Ainda de acordo com a OMS: "Existem provas claras do impacto crescente que a e-saúde tem atualmente na prestação de cuidados de saúde em todo o mundo e do modo como está a tornar os sistemas de saúde mais eficientes e mais adequados às necessidades e expectativas das pessoas.” 

Já no âmbito das políticas comuns da UE foram definidos (em abril de 2018) três pilares essenciais para o desenvolvimento dos cuidados de saúde por via digital (Digital Health and Care)1

Pilar 1 – Acesso e partilha segura de dados (Secure data access and sharing); 

Pilar 2 - Ligação e partilha de dados de saúde para investigação, diagnóstico mais rápido e melhoria da saúde (Connecting and sharing health data for research, faster diagnosis and improved health); 

Pilar 3 - Reforço da capacitação dos cidadãos e dos cuidados individuais através de serviços digitais (Strengthening citizen empowerment and individual care through digital services).

 

No passado mês de abril foi aprovada uma regulamentação para o "Espaço Europeu de Dados de Saúde (EHDS)3” cujos principais objetivos são: 

  • "Colocar os cidadãos no centro dos seus cuidados de saúde, concedendo-lhes pleno controlo sobre os seus dados, com o objetivo de melhorar os cuidados de saúde em toda a UE; 
  • Permitir a utilização de dados de saúde para fins de investigação e de saúde pública, sob condições estritas.” 

"Graças a estas novas regras, os cidadãos beneficiarão de um acesso imediato e simples aos seus dados de saúde digitais quando se encontram na UE, independentemente da sua localização. Por exemplo, quando um doente procura cuidados de saúde no estrangeiro, os profissionais de saúde poderão, quando necessário, aceder a informações essenciais do Estado-Membro de origem do doente. Tal permitirá melhorar a tomada de decisões baseadas em factos e reduzirá a repetição de testes e exames e melhorará os cuidados prestados aos doentes.”  

O advento da e-saúde, com particular enfoque no acesso ao historial de dados clínicos e à otimização da prestação de cuidados médicos em algumas áreas especificas como, por exemplo, a telemedicina (consultas à distância), prescrição de medicamentos ou acompanhamento de doenças crónicas, são já uma realidade.  

O desenvolvimento que a era digital aporta à sociedade em geral contribui, de forma decisiva, para facilitar o acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde básicos e de prevenção inseridos em contexto de gestão de saúde pública e/ou privada com o intuito de melhorar a sua qualidade de vida.   

 


Por Rui Meireles, Diretor de Seguros de Pessoas da MDS Portugal
Publicado no Vida Económica